quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

PAPAGAIO DE PROSTIBULO

Rio de Janeiro, na zona do meretrício, as cafetinas mantinham na sala de entrada de suas “pensões”, papagaios de estimação.
O mais famoso deles, autentica correia de transmissão das noticias apimentadas, versões sobre orgias, segredos, intrigas e palavrões era conhecido pelo apelido de Albertine, coincidência ou não o nome do ou da personagem de Marcel Proust.
Era uma ave nervosa, agitada, correndo pra cima e pra baixo no poleiro, sempre acompanhada por uma corte de admiradores, aduladores e cortesões que usavam seu matraquear para espalhar boatos, enxovalhar inimigos e disseminar asneiras repetidas pelos usuários do estabelecimento.
Albertine também era considerado uma espécie de internauta.
Os cafajestes e gozadores se divertem “batendo palmas para doido dançar”, levando Albertine a um verdadeiro franesí.
Uma colher de milho e pronto o papagaio começava sua ladainha – Fulano e Beltrano estão de caso, Sicrano dormiu com a mulher do porteiro, o porteiro roubou a patroa, patroa, patroa, patroa, até que um dos fregueses lhe dava um tapa.
Acovardado Albertine ficava em silencio por alguns minutos. Mas bastava outra colher de milho e retomava a sermão: “Corrupção, corrupaco papaco”.
As pensionistas reptiam, as vezes em coro, o noticiário critico e moralisteiro de Albertine – “Beltrano é corno, a Zita está com gonorréia” e abria os olhos, o nariz adunco, autentica “tia veia”.
O lugar era ponto de encontro de vadios, caftens e uma espécie de intelectuais periféricos, que viviam dos favores de banqueiros e industriais, políticos que alimentavam as fantasias neuróticas de suas desimportancias.
Também uma ou outra mulher “largada” (no jargão machista) sempre com um discurso de hipocrisia ética: “acabei aqui por causa do assedio de fulano que pensava em me comprar”. Invendáveis, virgens de araque municiando os ouvidos de Albertine.
Que lançava ao mundo e ao lamaçal a sina de ave enfeitiçada: “Não presta, não presta, não presta”. Incorruptível, paco, paco, pataco.
No espírito característico do carioca hoje resta uma lenda urbana de que Albertine incorpora em certos indivíduos, numa espécie de mediunidade e segue seu triste destino de Esfinge micha.
No seu “site” se lê – “Ninguém interpreta noticia como eu”, Eu, eu, eu, eu.....