domingo, 6 de fevereiro de 2011

Dilma, a elegância da saia justa


Jacob Pinheiro Goldberg - Tribuna de Minas 06/02/2011

Na evolução do movimento feminino, que aspira à conquista do poder, aconteceu no Brasil um episódio emblemático, que vai se eternizar na história. Dilma Roussef no Senado, órgão característico da falocracia ideológica (a chamada Câmara Alta), interrogada se teria mentido aos algozes da ditadura, com os olhos em lágrimas profere lição imorredoura, traduzindo a voz dos oprimidos ao afirmar que o dever da resistência é o código de outra verdade, a verdade da rebeldia.

A criança diante do pai autoritário e arbitrário, o adolescente buscando espaço, o idoso refugiado na sua fraqueza, a mulher saindo da cozinha fazem coro com o estribilho da individualidade se opondo ao terror: Eu sou a Verdade, o Caminho e a Vida.

A grandeza de Diana, a caçadora, se encorpa na mulher de origem abastada, culta, refinada, sofisticada, que lança o pacto com o sonho dos deserdados.
Em conferência que proferi, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, citei um relatório da Unicef, onde se constata 60 milhões de mulheres a menos nas estatísticas globais devido à violência, espancamentos, ciúmes de honra, desatenção, falta de acesso a unidades médicas e educação, incesto, aborto seletivo, infanticídio, mutilação genital, matrimônio precoce, desnutrição, prostituição e trabalhos forçados.

O automóvel presidencial desfila diante das câmeras e uma agente da segurança acompanha o veículo. Milênios de humilhação revertidos na simbologia de um novo psiquismo. Sempre emprestei valor à sutileza das imagens na retina dos povos, enquanto psicólogo. Acompanhei Ayrton Senna, Lott, Franco Montoro, Marcelinho Carioca, Vitor Belfort, Giba, Jânio Quadros e muito da sociologia do Brasil operando. Mas a cena de Dilma me reporta à minha mãe, a poeta Fanny versejou: "Mentira, você é uma graça".

Realmente o discurso da "verdade" do poder sempre foi a verdade da força contra a virtude da multiplicidade e complexidade do real, matéria essa que abordei na palestra retrorreferida: para o macho, a mulher é a descendente de Eva, insidiosa que induz o honesto Adão ao pecado. Lilith, o demônio feminino babilônico, na literatura esotérica, rainha do mal, esposa de Satã. Acontece que o cosmo inteiro balança e se desloca. La donna é mobile.

Quanto mais Dilma enunciar a verdade feminina, mais desmascara o poder da "verdade" hipócrita da servidão. Nesta semana, um sociólogo do Governo americano declarou que o Governo nunca pode ser "totalmente" transparente.

A liberdade demanda muitas verdades, o totalitarismo tem uma só verdade.

A elegância está no respeito às diferenças.

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