sexta-feira, 6 de julho de 2012

Politicamente correto

Politicamente correto

05/07/2012

Politicamente correto
(Jacob Pinheiro Goldberg)
A partir do início do século XX, fica evidente que a luta pelo poder nacional, sindical, religioso, mundial, toma características de uma violência sem precedentes, na história. Entender a ânsia do homem pela força e a potência, pode servir como elemento de desmistificação. Como é que se processam os mecanismos de ansiedade dentro do indivíduo e se projetam na sociedade, com o objetivo de dominar o outro? O sadismo - o exercício sobre o outro “eu”, de tal maneira que proporciona prazer, através do controle da mente, do físico e do intelectual, tornou-se uma constante emocional, nos jogos das interações humanas. Matar, torturar, manipular. Eis verbos fáceis que Hitler e Mussolini souberam tornar populares. Obviamente, isto só pode acontecer como fruto de fenômenos econômicos e políticos de tremenda envergadura, dentre os quais um dos mais consequentes foi a proliferação dos instrumentos de comunicação e cultura de massa.
Sem rádio, a TV, o jornal, a Internet, não se pode compreender o ditador moderno. Mas, de outro lado, estamos cogitando de uma realidade profunda do mundo subjetivo de cada um. Sem a cumplicidade e a omissão não se estabelece o poder ilimitado. Na citação de Max Weber: “Potência - macht - significa toda oportunidade de impor a sua própria vontade, no interior de uma relação social, até mesmo contra resistências, pouco importando em que repouse tal oportunidade”.
O crescimento monstruoso desta realidade penetra hoje em nossas vidas, das maneiras mais grosseiras e sutis. Desde o controle de nossa atividade acadêmica até de nossos mais recônditos pensamentos e desejos. O pesadelo antevisto por Georges Orwell em “1984” está se realizando.
Qual a alternativa viável para o prosseguimento desta ânsia de controle que acabará desencadeando a guerra nuclear, com a destruição da civilização? Os homens se acostumam depressa demais à obediência. Na Polis grega a vida pública é caracterizada pela discussão. O diálogo entre a criança e o adulto, a mulher e o homem, o branco e o negro, o sim e o não, constitui a última fronteira contra o Leviatã ameaçador, cuja vontade de reduzir o cidadão ao autômato e a cultura a uma noção de “defesa e proteção”, e não de “Liberdade e expansão”. O crescimento, demográfico e institucional, das forças de produção e dos módulos de controle da informação, obrigatoriamente, acarreta a diminuição do espaço para o trânsito individual?
Em “A Terceira Onda”, Alvin Toffler procura adivinhar a saída honrosa de uma alternativa humanista e comunitária. De uma ou outra maneira, esta preocupação se casa com a sobrevivência da dignidade da espécie. O nosso século viu a tortura ser incluída no Dicionário político e jurídico, de quase todas as nações.
O genocídio e o racismo são as garras vulgares da massificação e ânsia de força, que integram num só domínio o fabricante de armas e o desestabilizador social, o terrorista enlouquecido que mata John Lennon e o funcionário burocrático que manipula estatísticas para provar o que não pode ser provado: que a miséria é sadia, que a falta de condições mínimas de vida é uma imposição dos “tempos...”.
O poder não pode e não deve divorciar-se de sua única fonte de legitimação, que é expressa democrática e soberanamente, pelo povo, só podendo ser exercido em seu nome.
Quando foge deste batismo original, torna-se o braço da opressão, na mentalidade do horror. Numa escala provinciana ou em escala nacional, dentro da família ou nos grandes conglomerados urbanos, o poder, outrossim, precisa estar sempre exposto ao juízo da crítica e da autocrítica, bem como limitado pelas sanções da moral coletiva, sem o que, tende para a redundância totalitária. A saga da resistência teve um “clímax” no filme “Z” de Costa Gavras, na greve de fome de Sakharov ou no suplício anônimo das fétidas prisões deste planeta atormentado. O “anticlímax” se determina pela objeção de consciência que furta ao tirano a glória do ganho. Uma espécie de“proibido proibir”, em sermão libertário e fraterno.

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