quinta-feira, 10 de abril de 2014

A psicologia integralista de 64
                                                                                                                      
Jacob Pinheiro Goldberg
Psicanalista e autor de “O Direito no divã”


   Terá sido mero acaso e fatalidade que o general Mourão Filho tenha dado o movimento inicial do golpe de 1964 a partir de Juiz de Fora? “Vaca fardada”, de pijama vermelho. O mundo de ontem, com destino ao antes – de – ontem. A “Casa Grande” saiu pela Dutra para (Eurico Gaspar, o simpatizante do Eixo) esmagar a “senzala”. 
   Algumas reflexões sobre o desenvolvimento das forças paranóicas que estimularam a histeria da oligarquia brasileira e das camadas menos-politizadas da população podem ser preciosas para a compreensão das placas tectônicas emocionais que fizeram eclodir a nossa farsesca e trágica opera mussolinesca.
   O então capitão Mourão Filho é considerado o autor intelectual do famigerado “Plano Cohen”, uma invenção a partir da sua condição de chefe do Serviço Secreto da Ação Integralista Brasileira, liderada por Plínio Salgado e que tinha no seu “Projeto para o Brasil” o viés do anti-semita Gustavo Barroso. Cohem é um estereótipo étnico judeu.
   Nas fantasias delirantes que associavam o bolchevismo e o judaísmo como conspirações internacionais, “Deus, Pátria e Família” sustentaram os pavores provincianos do Sigma e das Marchas que desencadearam o clima, o patético do Golpe, em Minas dos simpatizantes do fascismo e nazismo, partejando um nacionalismo enviesado que servia, como continua a servir, aos interesses norte-americanos.
   Comecei a servir ao NPOR, no 12º Regimento de Infantaria em Juiz de Fora, coincidentemente com a militância estudantil de esquerda. O clima no quartel era de um esquadrão italiano tolo e fanfarrão em que se discutia a “ameaça argentina”, de uma guerra imaginária.
   Pedi transferência para o C.P.O.R S.P e depois no 4º Regimento de Infantaria, cheguei ao comando da 1ª Cia. de Fuzileiros em 1958, sob o comando do posteriormente General Zerbini quando fiz para a P.U.C. S.P. o trabalho “Serviço Social no Exercito”. Casado com Terezinha de Jesus, lutadora feroz contra a ditadura, que me indicou senador pelo PDT, com apoio do Brizola. Aliás, José Maria Crispim, ídolo do PCB paulista, me disse na Rua Dom Bosco, nº 18, que o Osvino Ferreira Alves seria o ministro da Guerra do governo socialista, quanto sonho, quanta ilusão.
   Já então, muito antes do golpe, coordenando o Grupo Nacionalista em São Paulo de “O Semanário”, encabeçado pelo General Stoll Nogueira, pró-Lott, ficou claro que os quartéis teriam que escolher entre a raiz integralista e a tintura que formou, no Exercito o sentimento de pátria e socialismo, de Prestes (“Um soldado absoluto” de Wagner Willian). A traição de Kruel e a manipulação midiática denunciada por Juremir Machado definiram o horizonte de terror.
   Votos para que Juiz de Fora, de Irineu Guimarães e Clodesmidt Riani, renasça das cinzas e recupere os sonhos de Jango, o verdadeiro herói enlameado pelo reacionarismo de 1964 e do Golpe Midiático Civil-Militar.






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