quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Analise de Goldberg

“Zé”, o erro de José Serra
Guilherme Evelin – Revista “Época”



É certo que as dificuldades da campanha presidencial de José Serra já estavam anunciadas desde o começo da disputa eleitoral, por causa da popularidade do governo Lula e da boa situação da economia. Mas parece claro, a esta altura do campeonato, que alguns erros de condução da campanha tucana também contribuíram decisivamente para a complicada situação em que se encontra hoje Serra – na torcida para a realização de um segundo turno.
Um grande equívoco da campanha, na opinião de muitos analistas, foi a tentativa de popularizar artificialmente a imagem de Serra, com a criação da figura do “Zé” no lugar do tradicional “José Serra”, mostrada no primeiro programa eleitoral na TV (veja vídeo abaixo). A ideia era construir a imagem do tucano como uma extensão de Lula, que tem origem familiar pobre e costuma recorrer a expressões populares no seu discurso. Mas teve efeito contrário. Acabou transmitindo uma impressão de hesitação por parte de Serra, como apontou o psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg, que trabalha há vinte anos com o tema do imaginário popular na política. Em entrevista à repórter Ana Aranha, para a reportagem “Os candidatos à presidência no divã”, publicada pela revista ÉPOCA na edição 641, de 30 de agosto, Goldberg disse que a figura do “Zé” prejudicava a campanha tucana. “Serra não deve se fantasiar de pobre ou de Lula. É um risco ficar nessa oscilação hamletiana, esse ser ou não ser”, afirmou Goldberg.
Na semana passada, o sociólogo Marcos Coimbra, diretor do instituto de pesquisas Vox Populi, fez uma crítica semelhante, ao dissecar, numa palestra na Casa do Saber, no Rio de Janeiro,algumas das razões do favoritismo da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, na eleição presidencial. Para Coimbra, a criação do “Zé” foi um dos principais erros da campanha tucana. “O espaço do “Zé” já estava ocupado no imaginário popular pelo Lula. Serra teria tido mais sucesso se tivesse se apresentado como José Serra. Ou seja, a campanha de Serra não precisou dos adversários para ser descontruída”, afirmou Coimbra.
Os assessores de Serra, pelo visto, perceberam também o tamanho do engano. Logo, logo, aposentaram o “Zé”. José Serra voltou a ser chamado na propaganda eleitoral simplesmente de “Serra”

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