segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pais e filhos: Relação de amor ou interesse?

Artigo publicado na "Revista Família Cristã" - Ano 77 - Edição 904 - Abril de 2011

No histórico do desenvolvimento da condição humana se pretende que o interesse (etimologicamente inter esse, do latim, estar entre) deve ser sublimado para o amor. O interesse compreendido como uma intenção de vantagem que pode ser legitima ou ilegítima. O amor, este sentimento o mais espiritualizado das emoções, capaz de superar o egoísmo, cultivando o altruísmo. A natureza proporciona desde a concepção um jogo complexo e sofisticado que marca a interação entre pais e filhos. Já no útero da mamãe e nas etapas do desenvolvimento o nascituro, a criança, o adolescente e o adulto precisam da mãe e do pai, inicialmente para o nascimento, depois a sobrevivência e, paulatina e simultaneamente, o treino para a civilização. Do ângulo dos pais a necessidade de projetar nos filhos o mistério e o milagre do mandamento: “crescei e multiplicai-vos”. O magnífico sentido de transcendência e vida que os filhos devem perpetuar, superando o conflito de gerações até os rituais de passagem para a continuidade gratificante das heranças recebidas, metabolizadas e transformadoras. É através da educação e do carinho que esta pauta de mão dupla precisa transitar. Dando e recebendo, desinteressadamente. A virtude da oferta que muitas vezes roça e beira o sacrifício e que são traços determinantes de altitude do ser humano e que exigem dos pais o esquecimento de si mesmo, na superação dos limites, medos, preconceitos e dos filhos, mormente, a gratidão. Infelizmente, de algumas décadas, as ultimas do século XX e hoje, contemporaneamente, esta cultura de milênios e que se ancora nos instintos mais naturais da espécie e nas tradições religiosas e princípios éticos, vem sendo substituída por outros parâmetros, quais sejam: 1- A desqualificação da autoridade dos pais em nome de uma emancipação dos jovens, despreparados para o mister responsável da existência. 2- A inversão de papeis, provocando angustia e culpa em ambos elos da cadeia sentimental – pais e filhos se chocando e se distanciando, diante de crises que derrubam todo o qualquer freio de Superego. 3- O despreparo para enfrentar o consumismo desenfreado levando a filhos mercadejando o amor, em troca de recursos materiais. “Estudo se ganhar um automóvel”. “Meu pai me oferece férias no Guarujá e você na Praia Grande”. “Minha mãe deixa que eu vá à balada, beba, fume e você é careta”. Se instaura uma espécie de leilão de trocas afetivas que vai contaminar o que de mais elevado e sagrado deve existir entre pais e filhos: o pacto da entrega, sem expectativa de paga. É preciso notar o exemplo maligno que a mídia comercializada vulgariza neste campo: o uso de crianças e jovens como camelôs de afeto – concurso de beijos prolongados, o corpo feminino como vitrine de desejo, a competição da malícia e da esperteza no lugar da cultura e da inteligência. O cúmulo destas trocas de vantagens são programas de TV em que se intercambiam pais, como se fossem dramas de aluguel, personagens de amor por temporada, e isto, em nome de uma didática de compreensão. Educar e preparar os filhos implica em se auto-disciplinar para o amor e a dedicação que não estão a venda, nem no varejo e nem no atacado. É na dimensão do amor que pais e filhos podem mudar o significado da vida, emprestando sentido a jornada que é missão e não um “Shopping Center” de falta de caráter e oportunismo. Jacob Pinheiro Goldberg é psicólogo (Universidade Católica de Santos), doutor em psicologia (Mackenzie), escritor, autor entre outros livros de “O Direito no divã” (Ed. Saraiva).

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